Uma introdução ao estudo das vozes verbais
As vozes verbais – Introdução
Um dos assuntos explorados freqüentemente nas provas de concursos são as vozes verbais. Já abordei, em artigos anteriores, a voz passiva (tanto a analítica quanto a sintética).
Mas continuo recebendo vários e.mails que envolvem, de certa forma, o conhecimento sobre as vozes verbais. Um me chamou a atenção, pois a candidata simplesmente indagou-me: o que é uma voz verbal? Qual a “função da voz verbal”?
Por isso, resolvi retornar a esse já tão “batido” assunto, para oferecer o que eu chamo de “panorama geral sobre as vozes verbais”. Espero que todos compreendam a intenção deste artigo. Vamos lá...
A princípio, cumpre observar que a voz do verbo é a forma que este assume para indicar que a ação é praticada, sofrida ou praticada e sofrida pelo sujeito.
Desta forma, são três as vozes verbais:
I) Voz ativa: é a forma na qual o verbo normalmente se encontra para indicar que a pessoa a que se refere é o agente da ação. O sujeito, portanto, é o agente da ação verbal.
Exemplos:
O Governo Federal implementará novas ações para o combate à fome. (Governo Federal é o agente da ação verbal)
Muitas ONG’s estão descobrindo fórmulas inovadoras para o combate à fome. (“Muitas ONG’s” é o agente da ação verbal.)
II) Voz passiva: é a forma que coloca a pessoa como objeto da ação verbal, ou seja, o sujeito é o paciente (recebedor) da ação verbal.
Exemplos:
Desfizeram-se as dúvidas quando se apresentaram as novas provas. (Os termos “as dúvidas” e “as novas provas” sofrem as ações expressas pelos verbos “desfazer” e “apresentar”, respectivamente).
Os alunos têm sido constantemente elogiados pelos professores. (O termo “Os alunos” sofre a ação expressa pela locução verbal “têm sido elogiados”).
Por quem foste chamado aqui, meu camarada? (Observe que o sujeito desinencial (oculto) “tu” recebe a ação expressa pela locução “foste chamado”).
Observação: Para aprofundar a voz passiva, sugiro que assista a nossas aulas em vídeo e leia os artigos colocados em 10/12/2007 e 13/12/2007.
III) Voz reflexiva: é a forma que indica que a ação verbal não se transmite a outro ser, mas se reverte para o próprio sujeito. Dessa forma, o sujeito é, simultaneamente, agente e paciente — faz uma ação cujos efeitos ele mesmo sofre ou recebe.
Exemplos:
Ao sinal do padre, todos se ajoelharam. (Observe que a ação verbal é praticada pelo sujeito “todos” e sofrida por este mesmo sujeito, o que se percebe na reflexividade proporcionada pelo pronome oblíquo “se”).
Ele se deu o trabalho de vir a minha casa. (Observe: O sujeito “Ele” deu [a si mesmo] o trabalho.)
Os pais contemplam-se nos filhos. (O sujeito “Os pais” faz a ação de “contemplar”, cujo efeito recai sobre ele mesmo).
Observações importantes:
O verbo reflexivo sempre é conjugado com os pronomes reflexivos “me, te, se, nos, vos e se”.
É fácil perceber quando um pronome é reflexivo. Sempre que for possível o acréscimo de “a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, a nós mesmos, a vós mesmos e a si mesmos”, respectivamente, o pronome será reflexivo.
Outros exemplos de voz reflexiva:
Os operários se feriram durante a execução daquele serviço. (Observe: “Eles feriram a si mesmos”).
Sacrifiquei-me por ele durante muitos anos. (Observe: “Eu sacrifiquei a mim mesmo”.)
Vós vos considerais preparados para o concurso? (Observe: Vós considerais a vós mesmos...).
Tu te olhavas no espelho introspectivo. (Observe: Tu olhavas a ti mesmo).
A voz reflexiva recíproca
O verbo reflexivo também pode indicar reciprocidade, isto é, uma ação simultânea praticada por dois ou mais sujeitos. Os verbos desta voz são denominados de “recíprocos”; são, geralmente, usados no plural e reforçados por expressões do tipo “um(s) ao(s) outro(s), reciprocamente, mutuamente”.
Exemplos:
Maria, Joana e Eu nos estimamos. (Observe: Estimamo-nos mutuamente).
Mais de um dos circunstantes se entreolhavam no cinema. (Observe: “Olhavam um ao outro”, “Olhavam-se mutuamente)”.
Fazia meses que João e Pedro não se viam. (Observe: “Não viam um ao outro”. “Não se viam reciprocamente”.)
QUESTÃO DE CONCURSO COMENTADA:
Para marcar as agruras do sofredor Fabiano, o narrador emprega verbos na voz reflexiva, com exceção de:
a) "... apenas se limitava a semear na vazante ..."
b) "... engasgava-se, engolia em seco."
c) "E rendia-se..."
d) "... o sertanejo endividava-se, ..."
e) "... O patrão zangou-se..."
Resposta: Letra “E”
Comentário: O candidato bastava acrescentar às alternativas uma das formas “a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, a nós mesmos, a vós mesmos e a si mesmos”.
Observe:
“...apenas limitava a si mesmo...”
“...engasgava a si mesmo...”
“E rendia a si mesmo...”
“... o sertanejo endividava a si mesmo,...”
“... O patrão zangou (a si mesmo??)” — Difícil aceitar (e acreditar) que alguém tenha zangado a ele mesmo. Portanto, não se deve confundir o pronome reflexivo com o pronome “parte integrante” de certos verbos como “arrepender-se, apiedar-se, queixar-se, condoer-se”.
Um grande abraço e bons estudos.
Soli Deo Gloria.
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