Mais uma vez, vamos nos deparar com um vocábulo bastante “largo” em nossa língua, pois possui inúmeras funções morfológicas e sintáticas. Vejamos:
1) Pronome apassivador à associado a um verbo transitivo direto ou a um verbo transitivo direto e indireto, forma a voz passiva sintética (também chamada de pronominal). Neste caso, o “se” é chamado de “partícula (ou pronome) apassivador ou apassivante”. Veja:
* Ali não se alugavam outras coisas, senão roupas de frio.
2) Índice de indeterminação do sujeito à quando está associado a verbos intransitivos, transitivos indiretos ou relacionais (verbos de ligação). Vejamos alguns exemplos:
* De fato, não se devem assistir a filmes que atentem contra os bons costumes.
3) Sujeito de verbos no infinitivo à é um caso raro; o “se” funciona como o sujeito de um infinitivo que é núcleo de uma oração reduzida. Veja:
* O cego deixava-se levar por seu guia.
* “E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo e tranquilo, como um faquir.” (Machado de Assis)
Observação:
Este caso (pronome átono em função subjetiva – como sujeito) só ocorre com o infinitivo dependente de verbos causativos e sensitivos como “deixar, mandar, fazer, ver, ouvir”, embora alguns gramáticos de renome, como o professor Silveira Bueno, não aceitem a existência de um “se” na função de sujeito.
4) Partícula expletiva ou de realce à ocorre como mero elemento de realce. Neste caso, pode ser retirado da estrutura sem prejuízo gramatical.
* Ele está ansioso por amigo que se demora.
* Já se passaram tantas horas, e ele não dá notícias.
5) Parte integrante de verbos essencialmente pronominais à neste caso, o “se” não apresentará função sintática.
* Todos se arrependeram dos atos praticados durante a festa.
* Elas ainda se lembram de todos os fatos em seus mínimos detalhes.
6) Pronome reflexivo, objeto direto à função bastante comum exercida pelo pronome “se”. Neste caso, o “se” indica a reflexibilidade da ação, pois a ação recai sobre o sujeito, enunciado agora no pronome reflexivo “se”.
* Hitler se matou quando não mais viu possibilidade de implementar suas ações.
* Ao ouvir os tiros, todos se esconderam nas proximidades do morro.
Observação:
Convém citar preciosa lição colhida do insigne mestre Eduardo Carlos Pereira: “Para que haja voz reflexiva, expressa pelo pronome ‘se’, é indispensável que o núcleo do sujeito seja um substantivo que nomeie um ser capaz de agir: – Ele se feriu.”
7) Pronome reflexivo, objeto indireto à função não muito comum, já que o “se” frequentemente exerce a função reflexiva como “objeto direto”. Em tais construções, o “objeto direto” sempre vem claro na estrutura e se percebe nitidamente o “se” reflexivo funcionando como dativo, isto é, como objeto indireto.
* Ele arroga-se o direto de trocar a mercadoria além do prazo legal.
8) Pronome reflexivo recíproco (morfologicamente), objeto direto à neste caso, o “se” equivalerá a “um ao outro, uma à outra”.
* Após o casamento, os noivos se abraçaram longamente.
9) Pronome reflexivo recíproco (morfologicamente), objeto indireto.
* Os noivos deram-se as mãos para o início da cerimônia.
10) Conjunção subordinativa condicional à quando introduz orações subordinadas condicionais.
* Se ele fosse conosco, as coisas seriam mais fáceis.
11) Conjunção subordinativa integrante à introduz orações substantivas que traduzem ideia de hipótese, dúvida, incerteza.
* Até agora não sabemos se eles virão ou não.
12) Conjunção subordinativa causal à empregada em raras construções com o sentido de “já que, visto que”.
* Se sabias que eu não tinha condições para a missão, por que me enviaste?
Comments