Mais uma lição bastante interessante sobre o emprego de duas expressões que, não raro, provocam dúvidas. Embora no dia a dia sejam usadas de forma indistinta, podemos, ainda assim, traçar algumas orientações. Vejamos:
Emprega-se TER DE (verbo + preposição), seguido de outro verbo no infinitivo, quando se deseja denotar “fato infalível, necessário, obrigatório ou jussivo (imperativo)”. Observe os exemplos:
* O Brasil tem de ser um país menos desigual. (Equivale a è “O Brasil tem a obrigação de ser um país...)
* Todos tiveram de sair por causa do fogo que já atingia os últimos andares do prédio.
Emprega-se, por outro lado, TER QUE, seguido de um verbo no infinitivo, quando se deseja indicar simplesmente “algo para fazer”, “algo que ainda não foi feito”. Nesse sentido, transmite-se tão somente “mera informação” ou uma “ação facultativa”. Nesse caso, o “QUE” funcionará como uma preposição equivalente à preposição DE. Alguns autores, entretanto, chegam a classificar esse “QUE” como uma conjunção integrante ou mesmo como um pronome relativo. Vejamos:
* “Esses não têm que envenenar a alma de seus filhos com as misérias domésticas do cativeiro (...); não têm que dar, nas suas escolas, em vez da educação cívica, o ensino da opressão perpetuada, não têm que sentir a organização de sua pátria assentada na denegação eterna da liberdade a uma parte indefesa do gênero humano.”
* “É uma mania de seu amigo, Senhor Ricardo, esta de só querer cousas nacionais, e a gente tem que ingerir cada droga, chi!” (Lima Barreto)
Observações:
a) Como já dissemos, no dia a dia, essas expressões são usadas quase indistintamente, uma vez que nem sempre é fácil se fazer a distinção entre o que é “obrigação” do que é “mera informação ou ação facultativa”. De acordo com a professora Maria Helena de Moura Neves, a expressão “TER QUE” é hoje mais usual do que TER DE. Esta última é empregada com mais frequência, segunda a professora, na linguagem literária.
b) Alguns autores preconizam que, na expressão TER QUE, o “que” funciona como pronome relativo sem antecedente explícito. Para os que advogam essa morfologia do “que” como pronome relativo, deveríamos analisar o período da seguinte maneira:
* Não posso sair hoje, pois tenho que estudar. è Equivale a “... tenho (algo) que estudar”.
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